quarta-feira, 10 de abril de 2019

Filmambiente - Astral (04/04/2019)


                No dia 04 de abril, no cinema da Reserva Cultural de Niterói, tivemos o privilégio de participar enquanto Laboratório de Pesquisa da UFF – LabMigrar, do festival Filmambiente que faz parte do circuito internacional de filmes que tratam sobre importantes temas como: meio ambiente, globalização e os efeitos gerados pelo sistema de produção preponderante na atualidade. O festival busca proporcionar a reflexão e a discussão de assuntos extremamente relevantes, porém, muitas das vezes, deixados de lado por nós.  
                Nessa publicação, quero destacar o filme de abertura do festival: Astral – que conta a história de um veleiro de luxo que foi transformado em um barco de resgate pela ONG espanhola Proactiva Open Arms, que se dedica na busca e salvamento dos deslocados forçados, que arriscam suas vidas na travessia do Mar Mediterrâneo sonhando com uma vida melhor na Europa. O filme traz fortes cenas em que homens, mulheres e crianças, na busca por sobreviver, vencem a fome, a sede, o medo e a incerteza de um asilo em outro país.


                Ao nos confrontarmos com essa realidade, não podemos mais ficar apáticos e inertes a fatos como esses, em que pessoas são obrigadas a deixar os seus países de origem na luta pelo DIREITO  AVIDA; em busca de paz, segurança e da garantia dos direitos humanos.
                O colapso denominado de Crise de Refugiados, apresenta o massacre contra as pessoas que decidem atravessar a fronteira entre o hemisfério sul e o norte do globo, sendo, em sua maioria, criminalizados e nomeados como migrantes ilegais que trazem risco e insegurança para a população dos países ricos do norte.


                Não podemos deixar de destacar que essa perseguição e distinção também é motivada por critérios raciais, uma vez que a maioria dos refugiados são de países Africanos e do Oriente Médio, recaindo, também, sobre eles o peso do preconceito racial. 
                Os enfáticos debates em torno da crise de refugiados trazem como pretexto a ampliação dos mecanismos de segurança e repressão nas fronteiras, na construção de barreiras, a fim de impedir que as pessoas adentrem nos territórios dos ditos países democráticos e de primeiro mundo, produzindo o “caos” embasados no discurso da escassez.

Vídeo de divulgação do 1º dia do evento com a participação de Fátima Scanoni
Fátima Scanoni participando do debate

Aqueles que conseguem chegar ao território dos países centrais, se deparam com os critérios de distinção entre os solicitantes de asilo, onde é averiguado quem merece e quem não merece o Direito ao Refúgio. Assim, mais uma vez, o Direito à Vida é colocado em xeque, fazendo com que o critério de escolha só seja considerado quando levado ao seu limite.  
                Dessa forma, podemos afirmar que fugir é o pecado que eles cometeram, ao se insurgirem contra a violência, contra a fome e as barreiras que os “sentenciam a morte” todos os dias nos seus países de origem, sendo impedidos de cruzarem as fronteiras do “mundo globalizado” na luta pelo direito de existir.


Sala de cinema durante o filme
Daiana Lacerda, Fátima Scanoni, Isadora Bersot - Integrantes do LabMigraR
Últimos momentos antes do começo do filme
Chada Kembilu, refugiado congolês, contando sua experiência no Brasil

Texto: Daiane Lacerda

quinta-feira, 14 de março de 2019

Nossa vida escapa - Isadora Bersot


Cemitério dos coletes. Lesvos, Grécia

Nossa vida é um aglomerado de experiências que, por vezes, se intercruzam com as de outros. A exposição "Raiz", de Ai Weiwei, me transportou para 2016, quando estive em Moria, um campo de refugiados na ilha de Lesvos, Grécia. O artista também esteve lá e capturou imagens para o documentário Human Flow. Há, em Molyvos, um local chamado "cemitério dos coletes", onde ficam os coletes salva-vidas dos refugiados que chegam até a praia. Vendo minhas fotos, você pode reconhecer o lugar retratado nas fotos de Weiwei também.

Ver todas as que ele tirou na ilha, dos botes, dos refugiados é lembrar que a nossa vida escapa. É um constante escape. Especialmente para quem precisa fazê-lo, literalmente, para sobreviver.




Imagens de Ai WeiWei em campos de refugiados diversos

O termo "refugiado", a partir de lá, passou a ter contornos.
Sombras.
Rostos.
Nomes.
Histórias.


Objetos de marcenarias feitos pelo artista
E rever, em São Paulo, tantas fotos, objetos de marcenaria e aquele bote gigante me levou a lembrança da fuga de uma vida que não vivi, mas que sinto como se tivesse. Ler e saber de relatos de refugiados parece que me fez viver uma vida que não era minha em uma espécie de Matrix.

Confesso. Não sou muito boa com nomes. Não lembro dos daqueles que conheci. Mas seus rostos estão frequentemente em minha mente.

Aquele senhor da Tanzânia, que chegou durante a noite e, ao reencontrá-lo e cumprimentá-lo, ouvi: Como é possível ter um dia bom aqui dentro?

Relembro aquela dupla de amigos sírios que disse, após um temporal que inundou suas barracas, que voltariam para sua terra natal, pois era preferível morrer lá do que em uma outra desconhecida.

E daquela jovem síria grávida, que teve um ataque de pânico após um incêndio no campo que ceifou, ao menos, uma vida. No dia seguinte, ela aceitou uma barra de chocolate de presente, e seu filho estava bem.


Lembro de outra jovem que foi agredida e perdeu o bebê com três meses de gestação.

Há um menino muito especial. Ele sempre vinha brincar e me perguntava se eu lembrava de seu nome. A gente jogou bola. Ele conseguiu asilo em Atenas.

Lembro de uma africana que falava português e dizia não aguentar mais nenhum dia ali.

Do senhor iraquiano, muito simpático, com uma alegria infrequente, que vendia um café maravilhoso. O primeiro era de graça, para garantir o retorno.

E de muitos outros... Tantos outros...

Bote de refugiados. O tamanho é monstruoso.

Bote em tamanho real. Lesvos, Grécia.


Minhas duas semanas em Moria foram uma catarse.E eu só penso em voltar. Meu coração segue a cada dia mais apertado, sendo esmagado pelo que, para mim, são lembranças. Para eles, a própria vida.

Nada melhorou muito desde que voltei ao Brasil.
O frio mata.
A doença mata.
A solidão mata.
A guerra mata.
E cada dia a mais é um dia a menos.
Para todos nós.



Parede que conta a história
dos refugiados. Clique
para ampliar.
O que não podemos deixar morrer é a esperança. A vida de Ai Weiwei acende uma chama. Há muitos outros livres. Sobreviventes. Mas ainda há muitos mais enfrentando terra, mar, guerra, ar... para alcançar essa liberdade.

Enquanto houver outros, não podemos parar. Considere colaborar financeiramente, ao menos, com instituições que apoiam refugiados no Brasil e no mundo. Seres humanos não podem ser apenas estatísticas.


(Texto e imagens: Isadora Bersot)



A arte como denúncia - Fátima Scanoni

Painel de apresentação da exposição
A exposição Raiz – Ai Weiwei é capaz de proporcionar o contato com um projeto cujo orçamento é ousado, cujas instalações apresentam grande escala, direcionando o visitante a refletir sobre assuntos de relevância política e humanitária.


A chegada da exposição no Brasil se deu em outubro de 2018, na cidade de São Paulo, e teve a Oca do Parque Ibirapuera como local reservado para receber os visitantes. Tendo sido encerrada em janeiro deste ano, seguiu para outra cidade do país.
O artista Ai Weiwei
Foi ali mesmo, em São Paulo, que tive a oportunidade de ter contato com as obras deste artista chinês, nascido em 1957, na capital Pequim. Trata-se de um designer, artista plástico e ativista social que atualmente é dissidente do seu país e reside na Alemanha     tal mudança se deu pelo seu histórico das denúncias de irregularidade e corrupção do governo chinês, o que o tornou um imigrante e o aproximou da pauta do refúgio.
Arte em porcelana
Uma parte da exposição foi destinada a exibir a questão da crise do fluxo humano: a partir de 2015 o artista teve contato com refugiados, sendo os primeiros aqueles recém chegados em Lesvos, Grécia, no campo de Moria. Essa experiência o inspirou a produzir documentários, três deles são exibidos na exposição: "A bordo", "Calais e Idomeni" e o documentário intitulado Human Flow (Fluxo humano), que é o de maior repercussão. Para tais produções, o artista, a fim de coletar dados, colecionou visitas a 23 países, 40 campos de refugiados e entrevistas com mais de 600 deles.
A obra que causou maior impacto visual em São Paulo é identificada como Law of the Journey (Lei da Viagem) / Protótipo B, um barco inflável de 16 metros de comprimento com figuras humanas feitas de PVC  esta obra foi colocada no Largo do Parque do Ibirapuera por um dia.
Impressiona no artista a sua maturidade de raciocínio moral e capacidade de comunicação, pois manifesta talento ímpar quando transforma as suas críticas em instalações engenhosas, de grandes proporções e capazes de chamar a atenção dos espectadores, além de cooptar apoiadores às causas que denuncia: corrupção, crises e injustiças.


Law of the journey (Lei da viagem) - Protótipo B


(Texto e imagens: Fátima Scanoni)


sexta-feira, 18 de agosto de 2017

#IBelong


"Hoje, mais de 10 milhões de pessoas em todo o mundo não pertencem a lugar algum.
Elas são chamadas de ‘apátridas’. A elas é negada uma nacionalidade. Com isto, também são negados seus direitos básicos.
A apatridia significa uma vida sem acesso à educação, cuidados médicos ou emprego legalizado. Significar uma vida sem que se possa circular livremente, sem perspectivas ou esperança. A apatridia é desumana.
A apatridia é causada, principalmente, pela discriminação. Por questões étnicas ou religiosas. Porque em alguns países a mulher não pode passar sua nacionalidade aos filhos.
Acreditamos que chegou a hora de acabar com esta injustiça. Com determinação, sabemos que é possível. Governos podem mudar suas leis e procedimentos, garantir aos apátridas seus direitos e dar a eles um lugar para pertencer.
Dentro de 10 anos, nós podemos garantir que todos tenham uma nacionalidade. Porque se não fizermos isso, a injustiça só vai piorar.
A cada 10 minutos uma criança nasce apátrida. Quando você tiver terminado de ler esta carta, outra pessoa pode ter começado sua vida sem nacionalidade.
Estamos prontos para fazer nossas vozes serem ouvidas. Acreditamos que se tomarmos uma posição, outros se juntarão a nós. E se estivermos em número suficiente, conseguiremos acabar com essa desumanidade.

Precisamos de 10 milhões de assinaturas para mudar 10 milhões de vidas. Há 60 anos, o mundo concordou em proteger os apátridas. Agora é hora de erradicar a apatridia.


Você pode ajudar a mudar a vida destas 
pessoas. Assine a carta aberta clicando aqui

terça-feira, 15 de agosto de 2017

E se os grandes líderes mundiais fossem refugiados?

Essa é a proposta do artista e refugiado sírio Abdalla Al Omari.




Todas as pessoas possuem histórias, sonhos, desejos, temores e esperanças.
Precisamos nos conectar a elas.

*legendas em espanhol. Disponível aqui,

sábado, 12 de agosto de 2017

Projetos de Auxílio a Refugiados no RJ

No Rio de Janeiro e em outros estados existem projetos importantes que auxiliam refugiados. Considere se informar e colaborar através dos links abaixo:


PARES CáritasOs principais objetivos do Programa de Atendimento a Refugiados e Solicitantes de Refúgio da Cáritas RJ são: promover o acolhimento, assegurar que os direitos dos refugiados sejam respeitados e criar condições para que eles possam reconstruir a vida no Brasil de forma digna. Para isso, a Cáritas RJ atua em três frentes: acolhimentoproteção legal e integração local.

Abraço Cultural: Curso de idiomas ministrado por refugiados, com o objetivo de promover a troca de experiências, a geração de renda e a valorização pessoal.


Missão MAIS: A MAIS trabalha com o acolhimento, restabelecimento e desenvolvimento de refugiados em algumas de suas bases ao redor do mundo.



Médico Sem Fronteiras:  Médicos Sem Fronteiras (MSF) é uma organização humanitária internacional que leva cuidados de saúde a pessoas afetadas por graves crises humanitárias. Também é missão de MSF chamar a atenção para as dificuldades enfrentadas pelos pacientes atendidos em seus projetos.


Feira Chega JuntoO Chega Junto é um projeto voltado para aqueles que gostam de conhecer o mundo pela comida autêntica. Os expositores da feira são os CHEGADOS, que vieram de toda parte do mundo e que, pela comida, se aproximam da cultura brasileira. 


Se você conhece outros, comente aqui embaixo para contar pra gente!

Como vivem os refugiados na Grécia?


Tradução: 

1,3 milhões de refugiados viajaram pela Grécia nos últimos 2 anos procurando segurança de conflitos e perseguição. Muitos fizeram a perigosa travessia da Turquia; mas com as fronteiras fechadas e o acordo União Europeia-Turquia, milhares deles ficaram presos no campo informal Idomeni ou nas ilhas. 

No outono de 2016, 62.000 refugiados estavam vivendo em mais de 30 campos. Mas diante dos muitos argumentos da União Européia, a resposta do Estado grego e de grandes ONG's foi inadequada.

"Um oficial sênior de auxílio estimou que, de 100 dólares, 70 foram desperdiçados."

Deixando muitos enfrentando um inverno muito frio sem proteção adequada. Mas mesmo com recursos limitados e contra enormes desafios, muitos grupos preencheram esses 'espaços vazios'; desde resgates marítimos e projetos de construção até fornecimento de roupas de inverno e comida fresca para milhares. Agora, muitas ONG's tiveram seus financiamentos cortados. 

"União Européia retira financiamento para agências de ajuda aos refugiados."

E mais uma vez, grupos tem se intensificado em colaborar. Agora, mais do que nunca, precisamos da sua ajuda. #escolhaAmarEDoar


sexta-feira, 11 de agosto de 2017

Refúgio x Migração


REFUGIADOPessoas que escaparam de conflitos armados ou perseguições. Com frequência, sua situação é tão perigosa e intolerável que devem cruzar fronteiras internacionais para buscar segurança nos países mais próximos, onde passam a ser consideradas um “refugiado”, reconhecido internacionalmente, com acesso à assistência dos Estados, do ACNUR e de outras organizações.

MIGRANTE: Escolhem se deslocar não por causa de uma ameaça direta de perseguição ou morte, mas, principalmente, para melhorar sua vida, buscando melhores oportunidades de trabalho e educação ou procurando viver com parentes que moram fora do país de origem. Diferentemente dos refugiados, que não podem voltar ao seu país, os migrantes continuam recebendo a proteção do seu governo

Fotos: Santi Palacios